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Pe, Rogèrio Augusto de Oliveira

Vigário Paroquial da matriz de Nossa Senhora da Assunção – Barbacena – MG

FINADOS: A MORTE E SEUS RITOS

O que é a morte? Por que morremos? Vivemos numa sociedade em que quase não se fala sobre a morte, ou sobre o morrer. As pessoas normalmente não gostam e procuram se esquivar, sempre que alguém, em rodas de conversa puxa esse assunto. Porém percebemos que é importantíssimo falarmos sobre essa realidade presente no mundo, desde que o mundo é mundo e o homem, ou seja, a humanidade existe, a morte sempre existiu e sempre existirá.

Assim, em um estudo mais abrangente, percebemos que desde os primeiros hominídeos havia a preocupação com o fim da vida. Ou pelo menos havia uma atenção especial para com a  morte dos semelhantes. Podemos fazer essa afirmação pelos estudos realizados nos sepultamentos feitos por nossos ancestrais do período Paleolítico (100 000 a.C).

As grandes civilizações primitivas tinham intenso envolvimento com o fenômeno  do final da vida humana, que trouxe sempre um misto de fascinação e pavor.

Que é então a morte? Para alguns de pensamento essencialmente materialista, é apenas o final de tudo.  Com a ela tudo acaba, nada mais resta para aquela pessoa a não ser sua história nesse mundo. Para outros, é apenas uma passagem para outra realidade. Ela não existe enquanto fim, mas apenas como uma transição. Nesse grupo se distinguem duas linhas diferentes de pensamento: uma denominada reencarnacionista, acreditando que após a morte o espírito se desliga do corpo, passando a viver em outros planos até que um dia lhe é determinado voltar a esta vida, agora em outro corpo. Este retorno que poderia ser por diversas vezes, tem como objetivo proporcionar à pessoa, representada pelo seu espírito desencarnado, já que não perde totalmente a identidade intrínseca, novas oportunidades de crescimento e de reparação das faltas cometidas em vidas anteriores. Assim entende o espiritismo.

O outro grupo, que se denomina redencionista, não crê em retorno a esta vida. A morte é uma passagem definitiva que ocorre uma só vez.O ser humano perde sua condição material e se torna espiritual, deixando o espaço-tempo e a ele não retornando mais. Suas oportunidades de crescimento e correção de faltas acontecem somente no tempo de vida que aqui estiver. A razão desse pensamento é que os que creem nessa linha acreditam na redenção de Jesus Cristo. Ele, Deus humanado, veio à terra para redimir as faltas de todos os seres humanos, portanto não há razão para novos retornos. Tudo o que cada pessoa precisa fazer foi feito. E o que falta será completado pela redenção de Cristo. O grande problema quando se confrontam essas três linhas de pensamento, a materialista, a reencarnacionista e a redencionista, é que, cientificamente falando, é impossível provar qual das três está com a verdade. Cada uma presenta seus argumentos, cada uma alega ter provas suficientes, porém a comprovação científica somente se faz mediante completa isenção de valores pessoais, principalmente as oriundas do achalogismo, que é a essência da anticiência. Portanto, decidir sobre qual das três correntes de pensamento sobre a pós-morte está correta, somente a partir do campo da fé. A razão não é capaz de abarcar sozinha a questão. O importante é cada qual buscar seu caminho e que isso aconteça sem fanatismo, sem fundamentalismo xiita . Essas divergências nos mostram como o ser humano está definitivamente voltado para a questão da morte. Mesmo recusando interessar-se por ela, dentro dele fervilha continuamente o  questionamento fundamental: existe vida depois que se morre? Se existe, como será? Perguntas que repetimos e que somente terão respostas quando atravessarmos o umbral da morte e penetrarmos na realidade após a vida. Com isso já se pode apontar um dos maiores medos com relação ao fim da vida: o desconhecimento do que virá depois e suas consequências individuais para cada um de nós. Assim sendo, podemos dizer que nós somos imortais. Não eternos, pois eterno é somente aquele que não teve princípio e nem terá fim. E assim, só Deus.

Como então definir a morte? Pode-se dizer que  é o cessar da capacidade de nossa expressão biológica de nos autorregenerar. Quando, por uma  doença, por velhice, (esgotamento), por um acidente ou um crime, a expressão biológica de uma pessoa, a que chamamos de corpo, torna-se incapaz de se autorregenerar, dizemos que ela morreu. Na realidade, morreu sua expressão biológica, Mas não a pessoa, repetimos. Ela, na verdade, transformou-se. Como dizia Guimarães Rosa: “ As pessoas não morrem, ficam encantadas”.

Então para que serve a morte?

Parece-nos uma pergunta sem sentido, mas ela é de suma importância. A morte possui pelo menos três finalidades principais:

a)Proporcionar o equilíbrio da natureza- se não existisse a morte, certamente o mundo hoje teria uma super-hiperpopulação, não somente de seres humanos, mas  de todos os demais seres vivos, animais e plantas. Tomando somente a humanidade como exemplo, calcula-se que, desde se aparecimento no planeta Terra, cerca de 80 bilhões de seres humanos já viveram em sua superfície. Se nenhum deles tivesse morrido, considerando seu potencial de reprodução, hoje seríamos muitos bilhões a mais. De tal forma que possivelmente não haveria sequer um lugar para alguém se sentar. Se à humanidade somarmos os outros animais e as plantas, se não houvesse os predadores naturais nem a morte, a total ocupação  do planeta Terra certamente já o teria destruído. Portanto  é ela   que permite o prosseguimento da vida em nosso planeta

b)A valorização da vida – A mortalidade do ser humano o faz dará maior valor à vida. A possibilidade da morte que é sempre inesperada, dá-nos uma  emergente necessidade de fazer bem as coisas, sem esperar que outra oportunidade aconteça.

Por outro lado, a a certeza de que vamos morrer nos ensina a valorizar os ganhos. Certamente ninguém gosta de perder. Não gostamos de perder bens materiais, não gostamos de perder oportunidades, não gostamos de perder relacionamentos. As perdas nos dão a exata dimensão dos ganhos. A partida deste mundo, sendo a perda maior que podemos sofrer, nos faz valorizar a vida. A filosofia popular nos ensina: “ Quando se perde alguma coisa é que se descobre quanto ela valia”. A morte é, portanto, uma ótima professora de vida.

c) A transformação-Quando aqui há uma referência à transformação, estamos dizendo de  uma mudança para melhor. Como mestra da vida, a morte também nos ajuda nessa transformação evolutiva, quando passamos de um determinado estágio para outro superior. Observando a natureza, temos ótimo exemplo dessa realidade num dos insetos mais bonitos, a borboleta. Se a asquerosa larva que a antecede não morrer, não se transforma na multicolorida borboleta que encanta a todos. Da mesma forma, a semente. Se não for enterrada e morrer como tal, jamais se transformará na árvore frondosa que dá flores e frutos para enfeitar nosso planeta.

Assim é a morte e, por mais que isso  nos assuste, é uma realidade como a da larva e a da semente. Morrendo é que passaremos para a vida plena, a vida perfeita, o gozo da felicidade que nunca termina. Por isso é que Jesus disse que ele é o grão que cai na terra e tem que morrer para ressuscitar. Assim, percebemos que a morte não é um mal, mas uma necessidade, por mais estranho que isso possa parecer. Portanto, devemos chegar diante do portal para a outra vida  sem medo e sem mágoas, sem frustrações ou arrependimentos, atravessando-o na certeza de que fomos uma boa semente plantada em terra fértil .

Para que servem os ritos mortuários? E o luto?

Os ritos mortuários são realizados exclusivamente pelo ser humano. Pode-se dizer que eles têm início quando uma pessoas está gravemente enferma e praticamente cessam  as medidas terapêuticas  com fins curativos. Entre suas finalidades, destaca-se a despedida final. É o momento para a última relação com o moribundo, e no velório, com o morto.  São ocasiões para um carinho final, uma homenagem derradeira.  Com eles, procura-se prolongar a convivência com aquela pessoa querida. Alguns afirmam que não querem velório quando morrerem. E o fazem por não verem nele sentido algum, além de criticarem certos comportamentos nos velórios em que estiveram. Contudo, o velório não pertence ao morto e sim aos sobreviventes. Que dele necessitam. Não só o velório propriamente dito, mas todos os ritos mortuários têm sentido e são muito importantes para os que ficam.

Seu sentido para os que ficam: eles são necessários para ajudar na elaboração  das perdas e do medo da morte, comum a quase todas as pessoas. É comum observar em velórios pessoas  que conversam distraidamente, contam anedotas, procedem como se estivessem em uma reunião social qualquer. Muitos criticam essas atitudes dizendo que não querem velório para si mesmos devido a essa postura bizarra. Na realidade, quem apresenta tal comportamento quase sempre tem verdadeiro pavor da morte e por isso mesmo age de forma a desqualificá-la. Interiormente estão elaborando essa difícil relação, uma vez que o outro é sempre nosso espelho. No outro vemo-nos a nós mesmos.

Observando a pessoa morta, vemo-nos mortos em seu lugar. E surge dentro de nós a assustadora pergunta:”E se fosse eu que ali estivesse? Estou preparado para a minha morte?”

b) Seu sentido para os que partem- Para os que acreditam na transcendência do ser humano, os restos mortuários constituem oportunidade de preparação para a outra vida. Refiro-me aos atendimentos proporcionados aos moribundos, tais como o viático (comunhão dada aos agonizantes), a unção dos enfermos, a assistência de pastores e ministros religiosos, da confissão do moribundo. Depois da morte, a encomendação do corpo por ocasião do sepultamento, a missa da ressurreição do catolicismo. Os restos mortuários constituem uma espécie de rito de passagem. Exemplo disso é encontrado em tribos indígenas e povos antigo, quando se procurava, com esses rituais, eliminar as ligações  do morto com o mundo dos vivos. No Senegal ( país africano) era comum quebrar as pernas ou furar os olhos do cadáver para que o falecido não voltasse ao  mundo dos vivos. Comportamento semelhantes encontravam-se também, entre os judeus antigos, que colocavam pedras ou moedas sobre os olhos do morto, com a mesma finalidade. No sudário de Turim, conhecido como a mortalha de Jesus Cristo, e no qual se encontrava a imagem misteriosamente impressa  de seu corpo, identificam-se duas moedas sobre os olhos, certamente com o mesmo objetivo, uma vez que Jesus é judeu.

Outro sentido os ritos é o resgate simbólico de diferenças ou desavenças que possam existir em relação ao morto. O rito fúnebre traduz o desejo de se estar em paz com ele. O transcendental nos ritos mortuários pode ser percebido pela presença de alguns objetos/símbolos como, por exemplo, as velas acesas. Ali encontramos dois significados principal: o primeiro é a iluminação do caminho para que o morto possa percorrer com segurança sua trajetória até a morada definitiva. O outro é o sentido da purificação que o fogo apresenta. Sabemos que as impurezas do ouro são removida pelo fogo; as impurezas do morto também seriam eliminadas por ele. Por isso, a igreja católica aprova a cremação, não somente por essa razão, mas também porque o fogo não extingue a alma e o espírito que vão para Deus. No rito católico, o fogo é também um símbolo da ressurreição. A água tem o sentido de limpeza. Aos aspergir o corpo com a água benta, é como se estivesse lavando o falecido de todos os seus pecados, deixando-o em condições de ocupar um lugar no céu. O óleo sagrado com que é ungido o corpo, no sacramento da unção, relembra o óleo que os antigos lutadores passavam sobre  pele para lhes dar mais flexibilidade e maior dificuldade de serem seguros pelo adversário. Assim, o falecido fica pronto para a luta que, se imagina, irá travar para conquistar o repouso eterno. Já na liturgia protestante, entrega-se o falecido a Deus evitando-se tudo que possa preservar uma ligação com ele. Na liturgia protestante, portanto, não existem rituais específicos para o sepultamento.

As celebrações religiosas – a missa que celebramos erroneamente chamada de missa de sétimo dia, sendo celebrada quase sempre no sexto dia, uma vez que a contagem é feita a partir do próprio dia do falecimento, independentemente da hora em que ele morreu. Seu nome correto é “missa da ressurreição”, pois seu sentido não é o e chorar novamente o morto, mas o de se alegrar na esperança e até mesmo na convicção de que ele tenha ressuscitado, estando agora não glória eterna, perto de Deus. A  Missa da Ressurreição ( ou sétimo dia), tem sua origem no relato bíblico   do gênese do Universo, quando Deus trabalhou em sua criação por seis dias e descansou no sétimo.

A morte seria o equivalente a esse descanso. Uma possibilidade pouco conhecida e aplicada em nossa cultura, é a missa do terceiro dia que é celebrada em alusão à ressurreição de Cristo, no terceiro dia, após sua morte na cruz.

São relativamente comuns também as missas de trigésimo dia e a de um ano do falecimento, práticas preciosa que reconfortam a família. Contudo, há que se recordar dois pontos: o primeiro, que a missa não é celebrada ”para” o falecido e sim “na intenção” dele. Toda celebração é para Deus e para ninguém mais, nem para os santos, nem para os anjos, nem para ninguém exceto Deus. O segundo ponto é decorrente desse: se a missa é celebra “para” Deus e se Deus está fora do tempo, não há porque existir a preocupação de se fazer a celebração num dia exato, Na eternidade, onde o tempo não existe, as orações chegam a Deus em qualquer momento. Todo momento é o momento certo, seja terceiro, sétimo ou trigésimo dia.

O luto, esse derradeiro rito mortuário, é um trabalho interior para a superação da dor da perda. Diante dela, os que ficam podem optar por ser uma vítima ou um sobrevivente. Quem faz a opção pode ser vítima, fica eternamente se lamentando achando que o mundo inteiro se dedica a castigá-lo, a fazê-lo sofrer. Esse vive lutando para tirar proveito de seu sofrimento, chantageando com sua dor, as pessoas que o cercam para que lhe deem mais atenção. Mas  ninguém aguenta uma vítima por muito tempo. Com  todo respeito por sua dor, não se pode negar que todos aqueles que  se fazem ou se sentem vítimas, se tornem  autocomiserativos. E todo autocomiserativo, sem dúvida alguma, é um chato, intolerável por muito tempo. Por isso mesmo ele sempre acaba sozinho.

Já quem escolhe ser sobrevivente sofre, mas não se abate. Enfrenta o percalços dessa vida, encara os problemas que aparecem e dedica todo seu esforço a vencer os obstáculos.

Estágios do período de luto

1º estágio – primeiros trinta dias- geralmente a pessoa fica tão envolvida com os funerais, os aspectos legais, as visitas/algumas delas inconvenientes, curiosa e até mesmo mórbidas; que se tem pouco tempo para pensar no luto;

2º estágio – o terceiro mês, para a maioria das pessoas é o pior período, os amigos e visitantes diminuem ou desaparecem e até o “anestesiamento” começa a acabar. A realidade da perda se torna concreta e extremamente dolorosa;

3º estágio – do quarto ao décimo segundo mês – a pessoa vai elaborando seus próprios mecanismos de sobrevivência diante da perda. Começa a ocorrer a alternância de dias bons e dias normais;  Não seriam dias ruins e normais?

4º estágio – o primeiro aniversário da morte- as reações emocionais e esta data (esse estágio?) podem começar alguns dias antes. O sobrevivente começa a pensar que dento de poucos dias estará completando um ano da partida da pessoa amada;

5ª estágio – o segundo ano – esse é um período de libertação para  a maioria das pessoas, superado o primeiro ano, vão descobrindo lentamente que a vida continua e que é necessário reassumi-la em plenitude.

Terapia para os enlutados – toda pessoa enlutada pode e deve procurar ajuda nesse momento tão difícil. Existem grupos de ajuda terapêutica.

Espero que com essas pontuações, possamos ajudar um pouco as pessoas no conhecimento e na vivência de um dos momentos mais difíceis na vida de todos,  que é o momento da perda de um ente querido.

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